Dienstag, 29. Januar 2019

A desgraça da tapeçaria sagrada


Linha por linha, fio por fio e em cores seletas a tapeçaria da consciência é tecida pacientemente e seus padrões e desenhos formados pela marcha silenciosa, devagar e quiçá sôfrega do tempo. O tempo, ah, sagrado tempo! Molde da tapeçaria sagrada, rica e detalhada. Cada fio é uma memória, e cada pequeno detalhe é um traço do eu. Somos parcas de nós mesmos quanto à consciência e consistência de nossa obra persa e, às vezes, encontramos alguns insistentes puxadores e rasgadores do tecido não-físico gerado pela mente.
Apenas um puxãozinho, um puxãozinho de merda, para que boa parte da tapeçaria se esvaía com as chamas ocitocínicas e dopaminérgicas, remontando à um passado ancestral e instintivo. Os dez anos se esvaem em dez segundos. E lá se vão os fiozinhos, descarrilhando como um trem! É só dar adeus e esperar pelo momento do auto-reparo, embora o reparamento não seja de todo tão eficaz assim pois, a cada atrito ou estímulo externo, o tecido cede mais facilmente num lapso de esperança tão sofrido quanto caminhar em asfalto quente quando se está descalço. O puxar, o vandalizar da tapeçaria sagrada é algo prazeroso e doloroso simultaneamente. A faca de dois gumes que é sentir, é isso. E querer se atirar aos braços de alguém que lhe fará César no senado, mesmo que quem perpetue tal ato não o perceba; é se jogar em um poço sem saber nadar e seja lá mais o que for. É saber da desgraça do porvir, mas mesmo assim querê-la. Essas coisas lastimáveis e toscas da existência humana, é. 
O primeiro puxar da tapeçaria persa da consciência realizado pelas tuas mãos jamais foi reparado e, cada vez que retornas o que estava em processo de reforma se desfaz, pois o eu almeja afundar-se mais uma vez naquilo que agora são memórias distantes e ofuscadas pela névoa que encobre o passado. Por favor, rasgue o que resta! Leve consigo meus sentimentos por ti! Seus lábios são ópio e seus olhos são arte; serias tu algum tipo de deidade menor? Semi-divino, quase inexistente. A existência discreta, a existência que, por simplesmente ser, já faz encantos. 

Que os rasgos sejam fios novos tecidos pelas tuas mãos.

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